sexta-feira, 11 de julho de 2014

SANTA CATARINA: uma freguesia eliminada da toponímia

O modo como as freguesias de Lisboa foram recentemente aglutinadas, dando-se ao «bolo» nova designação conjunta, quase sempre foi aleatório e sem qualquer respeito pela História e pela cronologia olisiponense. Exemplo disso, a emblemática, imprescindível, ancestral Freguesia de Santa Catarina. 

Desaparecida.

A freguesia de Santa Catarina, autónoma desde o século XVI, possuía tradições enraizadas na noite dos tempos. Santa Catarina do Monte Sinai, ou de Alexandria, dá também nome a uma das colinas da cidade. E a um dos pontos de onde melhor e mais belamente se observa o estuário e a outra banda do Tejo: o Alto de Santa Catarina. 

O seu território [...] abrangia a encosta que desce do Príncipe Real até à antiga Boa Vista. As origens do topónimo remontam a 1218, quando D. Afonso II doou aos frades trinos, vindos de França para ajudar a combater os mouros, uma ermida, com leprosaria anexa, para os lados de S. Roque. Mais exactamente, onde hoje vemos o pátio da Cervejaria da Trindade, na Rua Nova da Trindade.

[...]



Para compreender esta enorme, crescente e espontânea influência duma devoção [...], convém que saibamos reconhecer o papel primordial de Santa Catarina de Alexandria na hagiologia europeia, nos largos anos que vão da fundação da nacionalidade até ao final do século XVIII. Para tal, teremos de deixar para trás aquilo que pertence à verdade e aquilo que pertence à lenda, entrando no domínio das escassas coisas que, pertencendo a ambas sem pertencer a nenhuma, só podem ser compreendidas ao abrigo da crença.

De acordo com a Legenda Áurea, Catarina de Alexandria era filha de um irmão do imperador Constantino, de nome Costus. 
[...]

Quando Catarina contava catorze anos, o rei seu pai morreu, deixando-lhe tudo em herança. Coroada pelos súbditos mais distintos, foram estes inquirindo que marido tomava para si, tendo em vista a desejada protecção de suas terras. Para espanto geral, a jovem soberana garantiu que pretendia governar sozinha. Um dos duques seus tios, realçando-lhe as qualidades, sugeriu que não poderiam os deuses tê-la assim beneficiado se não tivessem em vista gerações posteriores. Catarina imediatamente retorquiu que seria natural que assim fosse, caso o marido designado lhe pudesse ser igual ou superior em todas as qualidades. A mãe e os maiores do reino recuaram em desalento, pois tal coisa era impossível de se conseguir num homem que vivesse sobre a terra. [...]

Continua no livro LISBOA MISTERIOSA
de
MARINA TAVARES DIAS
(edição Objectiva, 2011)





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