terça-feira, 29 de abril de 2014

O Amola- Tesouras das nossas ruas

Alguns dos pregões (anúncios ambulantes) mais repetidos ao longo de todo o século XIX são impossíveis de reproduzir graficamente. O do ferro-velho, por exemplo, que se resumia a um rangido áspero, estridente, interminável. O uivo do galego aguadeiro, servindo de mote para assustar meninos mal-portdos. Ou o silvado da gaita do amola-tesouras-e-navalhas, hoje sobrevivente quase isolado no cancioneiro das ruas. Agora quase sempre de biccicleta (embora ainda os haja de «aparelho» completo; rodas e lima, circulando no pino da afinação.
Com a crise, multiplicaram-se. Para os estrangeiros, sobretudo para os franceses dedicados à cartofilia, é difícil explicar que um «petit métier» dos mais antigos e cotados em termos de postais antigos ainda existe em Lisboa, ao virar da esquina, para quem queira fazer postais «animés», «non-posés» e... editados em 2014.

MARINA TAVARES DIAS
«Vendedores e Pregões»,
um dos capítulos da
LISBOA DESAPARECIDA



segunda-feira, 28 de abril de 2014

OS GALEGOS

Em 1800, os galegos imigrados em Portugal são já perto de 80 mil. Ao longo dos 100 anos seguintes, dedicar-se-ão sobretudo à venda ambulante de água pelas ruas de Lisboa. Estão por todo o lado: entre o Rossio e a Arcada do Terreiro do Paço, entre os ministérios e o cais, à porta dos armazéns, à esquina das ruas da Baixa, aos montes no Chiado, onde havia um largo conhecido por "Ilha dos Galegos". 

Só aguadeiros, em Lisboa, são 3.454 por volta de 1830. Mas servem ainda para levar a trazer recados, para entregar encomendas ou fazer mudanças de casa. Dois galegos e uma corda podiam transportar quase toda a mobília de uma sala, dizia-se então. 

E dizia-se também que um amor sem galego era um amor sem pés. Que seria dos namorados sem este distribuidor de bilhetes amorosos, num tempo em que quase todos os romances tinham de 
esconder-se da ira paterna?




quinta-feira, 24 de abril de 2014

O 25 de Abril do José Antunes

Já ouvi e li esta fotografia atribuída a mais de dez pessoas.
Quem morreu não se defende; mas quem a tirou, num ano em que eu ainda andava nos bancos da escola, foi o meu futuro colega do 'Diário Popular', o grande fotógrafo da sua geração: José Antunes.

E sim, vi o negativo, e a sequência toda. Não é no Carmo. É à porta do elegante Paris em Lisboa, no Chiado. Após eventual fuga de agentes da PIDE, vindos da António Maria Cardoso. Havia uns 40 fotógrafos neste sítio. Mas esta fotografia específica, que se transformou num dos logótipos do 25 de Abril, é do JOSÉ ANTUNES.

Através dela aproveito para homenagear aquela geração de repórteres de mão-cheia, que apanhei no apogeu da carreira quando, aos 18 anos, comecei a escrever e a publicar.
Saudades vossas. Saudades de Abril, também.

Saudosista, eu? - Nem por isso. Sempre escrevi sobre a História da cidade. Nada que tivesse visto. Nada que tivesse sido meu.
Mas de vós, sim, tenho saudades. Do tempo em que ser jornalista era partir em busca da notícia. Aprendi tudo convosco. Os que vieram depois não sabem o que perderam.'

MARINA TAVARES DIAS


Esta prova fotográfica específica
foi impressa por José Antunes 
em grande formato e oferecida
à Direcção Geral da Comunicação Social.
Durante anos, o fundador 
da Fototeca do Palácio Foz,
Avelino Soares, 
teve-a em destaque, à entrada
deste precioso arquivo fotográfico 
(extinto quando Carrilho foi ministro da Cultura)

quinta-feira, 17 de abril de 2014

O HIPÓDROMO DE BELÉM

No Bom Sucesso, nas traseiras da actual Rua Bartolomeu Dias, com entrada pela Travessa dos Peões, existiu durante décadas o Hipódromo de Belém.

As corridas de cavalos não possuem hoje, em Lisboa, o cariz de encontro elegante que ainda têm em Paris (Longchamps) ou Londres (Ascot). No entanto, chegaram a ser o local mais bem frequentado da cidade, no tempo em que o hipódromo se situava mesta extremidade ocidental da cidade. Antes de ser tranferido, no início do século XX, para o Campo Grande. Na mesma época, tornar-se-iam habituais as corridas de cavalos no Velódromo de Palhvã.

Informações coligidas de
A LISBOA DE EÇA DE QUEIROZ
de
MARINA TAVARES DIAS

Fotografia Flauviens
negativo do Arquivo Eastman

sábado, 12 de abril de 2014

LYS, como a flor de uma batalha perdida pelos portugueses



A verdadeira «avenida mais longa de Lisboa», que Miguéis tão bem descreveu em «Saudades para D. Genciana». Nos seus primeiros anos, era o orgulho da cidade inteira. Começavam a circular os carros eléctricos, a construir-se os mais rebuscados prédios de rendimento. E podia ouvir-se uma agulha cair nas pedras da calçada.

A década de 1930 justificava já instalação de cinema de bairro, com requintes arquitectónicos únicos e uma programação de excelência dentro do estilo «reprise»: dois filmes seguidos pelo preço de um. O Cinema Lys recebeu o nome de uma flor que evoca a Portugal uma das suas mais tristes batalhas de sempre. Mas fez cinéfilos de todos os moradores do bairro dos Anjos, entre 1933 e 1973. Depois, mudou de nome para Roxy, passou a «estreia», beneficiando do tempo em que cada filme passava numa única sala de cada cidade. O advento das multi-salas e das multi-estreias ditou-lhe destino adverso em 1988. Hoje, com as paredes escurecidas e desfiguradas, é uma sapataria.
Leia sobre a Avenida Almirante Reis, a Freguesia dos Anjos e muitos dos seus locais emblemáticos nos 10 volumes já publicados da LISBOA DESAPARECIDA © de MARINA TAVARES DIAS (1987-2009), assim como em vários outros livros da escritora.

quinta-feira, 10 de abril de 2014

LISBOA DEPOIS DO TERRAMOTO

Entre os gritos e o desespero que se seguiram à manhã do dia 1 de Novembro de 1755, um homem começou a planear uma cidade nova. Mais prática, mais ampla e mais segura. A cidade das Descobertas dará lugar à cidade do Iluminismo. O Marquês de Pombal traça ruas largas sobre a antiga e confusa malha da baixa lisboeta. Para cada rua, prevê um ramo de comércio: os capelistas, os ourives do ouro e da prata, os correeiros, os douradores, os fanqueiros, etc. O Rossio será realinhado. Desaparecerá o Hospital de Todos os Santos. Nascerão os novos mercados, os novos jardins públicos, os novos botequins. Uma cidade dará lugar a outra. E a Baixa Pombalina guardará sempre, como designação, a sua homenagem ao homem que mandou reconstruir Lisboa.




segunda-feira, 7 de abril de 2014

A PONTE SOBRE O TEJO

Inaugurada em 1966, a Ponte sobre o Tejo (como os lisboetas lhe chamam) começou por chamar-se Ponte Salazar, mudando de nome em 1974, após a revolução que restaurou o regime democrático em Portugal. Hoje conhecida por Ponte 25 de Abril, recebe ainda a maior parte do tráfego que, quotidianamente, liga as duas margens. Em Março de 1998 seria inaugurada a segunda passagem lisboeta sobre o rio: a Ponte Vasco da Gama.

MARINATAVARES DIAS
«Lisbon for the tourist who loves History» 





sábado, 5 de abril de 2014

O HOSPITAL OFERECIDO PELA RAINHA À CIDADE





Stéphanie (técnica mista; Arquivo Marina Tavares Dias)



«D. Estefânia, calma e breve, foi uma das rainhas mais queridas pelos lisboetas do seu tempo. A sua sombra estende o nome por todo um bairro da capital, construído à volta do hospital pediátrico com que sonhou.

[...]No ano em que D. Estefânia chegou a Lisboa (1858), os terrenos onde seria construído o hospital pertenciam à velha Quinta da Bemposta [...]. A sua ideia de prover a cidade de um hospital pediátrico foi rapidamente acarinhada pelo marido, D. Pedro V, que pediu ao Príncipe Alberto, marido da Rainha Vitória, que lhe enviasse um plano traçado por arquitectos ingleses e que correspondesse ao que de mais moderno se construía na Europa desse tempo. Mortos prematuramente D. Estefânia e D. Pedro V, foi já no reinado do irmão deste último, D. Luís, (a 17 de Julho de 1877) que decorreu a inauguração.» [...] (continua no livro)

MARINA TAVARES DIAS
LISBOA DESAPARECIDA,
capítulo: 
«D. Estefânia: 
uma Rainha, 
um hospital, 
um bairro» (2001)


quarta-feira, 2 de abril de 2014

Ouro é na ourivesaria. E a rua chama-se Áurea




Há quem trate como «exportação» as toneladas de ouro que saíram de Portugal na última década, através das peças desfeitas, desmanchadas, destruídas para fazer barras de ouro a peso. Não louvo o discernimento de quem o faz. 

A venda de ouro a peso é responsável pela destruição de verdadeiras obras-primas da filigrana e da mão-de-obra portuguesa, numa época em que cada miniatura, cada medalha gravada, resumia o estilo e o talento do ourives que a fabricava. Torres de Belém em miniatura, medalhas com gravações de todo o tipo de votos e oferendas, pequenos anjos, peixeiras de Lisboa, diminutas réplicas da Torre dos Clérigos ou da torre da Universidade de Coimbra. Havia a malha batida de modo especial por cada artesão, a malha torcida, a malha «corrente», etc., etc., etc.

Tudo isso tem sido derretido como «peças que você já não usa», porque o ouro em barra é que vale como moeda de troca.

Agora que o mercado aurífico está em queda, algumas das lojas de «ouro a peso» estão a fechar à mesma velocidade com que abriram portas. Por isso, talvez seja altura de deixar aqui uma pequena filigrana de papel da década de 1930. Se quer defender a nossa ourivesaria tradicional, os nossos artífices, as nossas peças, não veja o ouro como batata a peso. Para «valores» meramente monetários, existem numismatas, onde pode comprar libras de ouro à cotação do dia.

Ouro português é na ourivesaria. E a rua dos ourives do ouro é, assim determinou o Marquês de Pombal, a Rua Áurea. Vale a pena uma visita.


MARINA TAVARES DIAS
LISBOA DESAPARECIDA

terça-feira, 1 de abril de 2014

By the seaside, Tejo adiante.

Histórias à beira-Tejo plantadas, para turista ler:

http://lostlisbonportugal.blogspot.pt/2014/04/by-seaside.html

Ou seja: Lisboa desde a moda da pele assustada pelo Sol
aos tempos do bronzeado.
De Pedrouços até Cascais.