segunda-feira, 31 de março de 2014

CHIADO ABAIXO




...numa manhã do Outono de 1912, duas costureiras dos elegantes armazéns trazem consigo a merenda da tarde. Vestem de acordo com o figurino importado, mas o tecido é, provavelmente, dos saldos do Grandella: fim de peça e fim de estação. O fotógrafo Benoliel retratou dezenas de costureirinhas para reportagens da "Illustração Portugueza" sobre os novos hábitos da mulher trabalhadora a "viver fora de casa". Na foto, à esquerda, a montra da casa Ao Último Figurino (mais tarde, Novo Figurino), fundada em 1910. Mais acima, a loja de ferragens Shefield House e um salão de chá, onde mais tarde se instalaria A Pompadour.

Em MARINA TAVARES DIAS
PHOTOGRAPHIAS DE LISBOA

sábado, 29 de março de 2014

A FEIRA DAS VERDADES

"QUEM NÃO VIU,
uma vez sequer, a Feira da Ladra, não imagina quanta vitalidade se contém na morte!" - assim escreveu Júlio de Castilho. A origem poderá ser tão antiga como a conquista de Lisboa, e a designação Feira da Ladra aparece pela primeira vez numa postura de 1610. Mas a feira que ainda se realiza, todas as terças-feiras e todos os sábados, no Campo de Santa Clara, está aqui apenas desde 1882. Antes disso esteve no Campo de Santana, na Praça da Alegria de Cima, no Rossio e perto do Castelo de S. Jorge.
[...]

MARINA TAVARES DIAS


em


PHOTOGRAPHIAS DE LISBOA


Na década de 1960

sexta-feira, 28 de março de 2014

Um "estylo digno de uma cidade civilizada"





EX-LIBRIS de uma época, o Prémio Valmor foi instituído, por disposição testamentária do 2º visconde deValmor, em 1898. Distinguir-se-ia, todos os anos, a melhor "casa" ou "prédio" cujo estilo arquitectónico fosse "Classico Grego ou Romano, Romano Gotico ou de Renascença ou algum typo artistico Portuguez enfim um estylo digno de uma cidade civilizada". Em 1909, este edifício concebido por Adolpho Antonio Marques da Silva (colaborador de Ventura Terra) recebeu uma das menções honrosas. Ocupava o número 72 da Av. Duque de Loulé e desapareceu em 1965 [...]

MARINA TAVARES DIAS
em
PHOTOGRAPHIAS DE LISBOA

quinta-feira, 27 de março de 2014

A DEMOLIÇÃO DA MOURARIA

Marina Tavares Dias

Lisboa nos Anos 40 | Longe da Guerra
Capítulo III

À medida que iam crescendo edifícios e arruamentos nas novas áreas urbanas a norte da Avenida Almirante Reis ia desaparecendo, a sul, a velha Mouraria. A degradação das casas mais antigas justificava, aos olhos do poder, uma devastação completa: “arrancar o mal pela raiz”. Semana após semana, tombavam por terra algumas referências alfacinhas, como a Ourivesaria da Guia, o Palácio do Marquês de Alegrete ou a Igreja do Socorro. Demolições que continuariam ainda pelas décadas de 50 e de 60, com o desaparecimento do Teatro Apolo e do último arco da cerca fernandina. Mas a Mouraria ocidental não morreu em vão: serviu como exemplo dos erros da demolição sem critério. Antes que o desaparecimento de outros bairros históricos fosse por diante, já tinham mudado os tempos, as vontades e as modas urbanísticas.

Rua e Arco do Marquês de Alegrete.
A Baixa Mouraria foi 
totalmente destruída entre 1946 e 1963.
Aguarela de Roque Gameiro (s/d)

quarta-feira, 26 de março de 2014


Lisboa dos Anos 40 
 O Nosso Cinema




Leonor Maia,
a Tatão do filme
O Pai Tirano
de António Lopes Ribeiro
(1941).
Em
LISBOA NOS ANOS 40 -
- LONGE DA GUERRA
de
MARINA TAVARES DIAS

terça-feira, 25 de março de 2014

BELÉM: A parte histórica demolida em 1939


fotografia de Eduardo Portugal, 1938


«[...] O processo do edifício número 138 da Rua de Belém não consta hoje de qualquer arquivo consultável. Em vão tentei localizá-lo, ao longo de meses, enquanto procedia à análise de todos os outros documentos referentes aos demolidos em 1939. Proprietários dos restantes prédios foram informados sobre indemnizações e prazos. Mesmo quando estes eram propriedade municipal, o respectivo processo inclui documentos referentes às lojas que albergavam. Porquê, então, esta misteriosa omissão do número 138?

Acontece que, confirmando aquilo que diziam as pessoas do bairro, a referida casa guardava, nos seus alicerces, ruínas históricas contemporâneas da antiga capela do Infante [D. Henrique; anterior à construção dos Jerónimos]. Quando as demolições do quarteirão começaram, rapidamente foram postas a descoberto as abóbadas.


Ordens superiores mandaram então suspender os trabalhos, permanecendo o pequeno edifício entre as ruínas dos seus vizinhos, enquanto se decidia o que fazer do achado. Nada transpareceu nos jornais, e a demolição acabou por consumar-se, pois já não havia tempo para alterar quaisquer planos [em relação à Exposição de 1940].»


MARINA TAVARES DIAS
in 
LISBOA DESAPARECIDA
capítulo sobre Belém

segunda-feira, 24 de março de 2014

A EXPOSIÇÃO DO MUNDO PORTUGUÊS

CINCO MESES, 3 MILHÕES DE VISITANTES




[...] Na sua área de 560 mil metros quadrados, a Exposição  do Mundo Português receberá 3 milhões de visitantes, de 23 de Junho a 2 de Dezembro de 1940. Entre eles estarão alguns estrangeiros privilegiados – como o escritor Antoine de Saint-Exupéry – que podem viajar pela Europa em guerra. Assim como quase todos os intelectuais portugueses que se opõem ao regime. Jaime Cortesão é visto às compras nos stands de artesanato, seguido de perto por um agente da PIDE.
[...][...]
A memória da grande festa, principal legado da Exposição do Mundo Português aos lisboetas, vai-se extinguindo com as gerações que passam. O quotidiano voltou ao normal logo em 1940, à medida que se esvaziavam os primeiros pavilhões. Outros, apeados muito mais tarde, por ali ficariam, à mercê da chuva e do sol. [...] (continua)

MARINA TAVARES DIAS
Excerto de texto jornalístico

sábado, 22 de março de 2014

Mil aventuras, mil decisões antes de um livro de Marina Tavares Dias chegar às livrarias

TAKE MCCCXXVIII

O livro está pronto quando está escrito.

Mas falta o resto.
O resto é como preparar um filme. A única coisa em consenso, à partida, é o guião: textos, temas que versam, legendas que se pretendem para fotografias que ilustrarão a prosa.

Depois, investigam-se milhares de fotografias em dezenas de arquivos e colecções. Há que percorrer o Arquivo MTD em busca de mais de três quartos das que serão escolhidas. Há que alinhar capítulos de modo coeso (cronológico? temático? topográfico?), escolher o «design» da paginação, do pormenor das capitulares à opção dos versaletes. Depois, verificar tudo com atenção. Linhas viúvas? Linhas órfãs? Dentes de cavalo? Teclas batidas a dobrar em algum dos espaços? Entrelinhamento certo? Passível de «aconchegar» sem que se detecte a olho nu?

E o formato?
E a gramagem do papel?
E a opção pelo tipo de capa?
E, e, e, e????
São mais mil e uma coisas, até ao corte final da guilhotina que dá forma aos cadernos.

Mas esqueçam, caros leitores.

Vejam apenas um exemplo.

Fácil.

Agradável.

Quantas versões de capa ficam para trás?
Aqui estão algumas das
LISBOA MISTERIOSA de MARINA TAVARES DIAS
que não passaram o crivo final. A primeira seria a preferida pela Autora.

Querem ver como ficou?
- Os últimos exemplares da segunda edição ainda estão em qualquer livraria...






sexta-feira, 21 de março de 2014

VENDEDORES E PREGÕES




No início do século XX, os vendedores ambulantes pululam nas ruas da capital, pregoando quase tudo o que é necessário ao quotidiano doméstico: água, leite, peixe, fruta, vegetais, enchidos, azeite, petróleo, carvão, camisas, sapatos, facas, vasos, cadeiras ou “abat-jours”. 

As favas vendem-se já cozinhadas em caldo (“fava-rica”), o amolador também conserta chapéus-de-chuva, os garotos mercam palitos e meninas fazem flores para os chapéus. Alguns ficarão célebres, como o gorjeio dos rapazes dos jornais: “Século-Nooootícias!”. 

Ou o grito mais repetido pelas ruas, o das varinas: «Viva da Costa!» Apesar do folclore alusivo e dos poemas que as louvaminham, as peixeiras da capital vivem realidade muito menos poética, passando a madrugada no cais a descarregar carvão e depois o dia a pregoar pelas ruas todo o peixe que se come às mesas de Lisboa. À noite, de regresso a casa, embalam os filhos nas mesmas canastas, sempre com o cheiro intenso do peixe.

MARINA TAVARES DIAS
LISBOA DESAPARECIDA

quarta-feira, 19 de março de 2014

Ah, a Capital!


Actores do Nacional, 
em noite de ensaio geral, 
posam no restaurante 
do Café Martinho (c. 1910)


- P’ra o Martinho, hein? E Arthur foi-os seguindo timidamente, ansioso por ver o Martinho!
Pareceu-lhe esplêndido, com a acumulação de chapéus altos entre os espelhos dourados, sob uma névoa de fumo de tabaco, no bru-á-á contínuo das conversas. Não se atreveu a entrar. À porta um grupo palrava, e Arthur contemplava-o de longe, com devoção, pensando que deviam ser poetas e estadistas…

Eça de Queiroz, A Capital!

terça-feira, 18 de março de 2014

O CINEMA S. JORGE E A SUA HERANÇA BRITÂNICA





A temporada de abertura do 
Cinema S. Jorge, em 1949, 
na Avenida da Liberade, celebrava 
as relações luso-britânicas, 
como demonstra o livrinho distribuído aos
 convidados para a inauguração 

(iconografia e legenda original em LISBOA DESAPARECIDA, 
volume I, de MARINA TAVARES DIAS)

segunda-feira, 17 de março de 2014

A LENDA DA SEVERA

A Severa num estudo 
incompleto de Alberto
de Souza, inspirado na figura
de Palmira Torres no papel
da peça homónima de Júlio Dantas.
A verdadeira Maria Severa nada
teria a ver com estas romanceadas versões
de chinela de verniz a saiotes encarnados



[...] Por volta de 1845, batia-se o fado por tudo quanto era lugar de boémia, desde a Calçada de Carriche até aos botes do Tejo, passando pelas tabernas do Bairro Alto e pelas vielas da Mouraria. Ouviam-se guitarradas no Arco do Cego e na Madre de Deus, no Lumiar e nas Laranjeiras, no Quebra-Bilhas do Campo Grande e na praça de touros do Campo de Santana. 

Nas esperas de gado, nas hortas, nos prostíbulos e nos palácios. Tudo terreno lavrado e sequioso para semear uma tradição e para erguer uma lenda. Assim sucedeu. Enquanto o marquês de Castello-Melhor, o conde de Anadia ou o conde de Vimioso organizavam serões onde punham a nobreza a par da terminologia fadista, a Lisboa da rua, a Lisboa popular ia sedimentando os futuros mitos. O primeiro de todos, heroína digna de romance de cordel, rouxinol da Mouraria, prostituta recebida pelos nobres, foi Maria Severa Onofriana.[...]
MARINA TAVARES DIAS
Continua na LISBOA DESAPARECIDA,
volume IV

domingo, 16 de março de 2014



A história 
do
GRANDELLA
por
MARINA TAVARES DIAS
em
LISBOA DESAPARECIDA
(pequeno fragmento)

«[.../...] "Entrando pela Rua do Carmo encontra-se a mais importante e mais rica secção do estabelecimento. É a secção de sedas. O seu sortimento proveniente das principais fábricas estrangeiras, eleva-se a algumas centenas de contos de réis. Aqueles castelos de peças, cheias de vida, de finura, de graça, matizadas, vaporosas, estonteantes, dão a esta . secção um tom de grandeza que deslumbra". [...]

Correspondia o sexto pavimento do Grandella ao primeiro andar sobre a Rua do Carmo. Aí se instalou um alfaiate, um decorador e a zona para artigos de viagem. Pelo andar seguinte distribuíram-se os escritórios, paredes meias com secções de atendimento, infor­mações, promoção, distribuição e encomendas para a província. 

Salas de jantar, de fumo e de leitura dos donos da casa foram decoradas em três estilos: árabe, Luís XV e Luís XVI, tudo no quarto andar do lado do Chiado. [...], e lustres e azulejos assinados por Bordallo Pinheiro. O décimo pavimento, parte da casa particular dos Grandellas, era em grande parte ocupado pelo maquinismo do grande relógio sobre a Rua do Carmo.»
(continua no livro)

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LISBOA DESAPARECIDA

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sábado, 15 de março de 2014

EÇA DE QUEIROZ E OS OURIVES DA RUA DO OURO






Via o fim da sua vida preenchido, completo, radioso. Estava quase sempre em casa da noiva, e um dia andava-a acompanhando, em compras, pelas lojas. Ele mesmo lhe quisera fazer um pequeno presente, nesse dia. A mãe tinha ficado numa modista, num primeiro andar da Rua do Ouro, e eles tinham descido, alegremente, rindo, a um ourives que havia em baixo, no mesmo prédio, na loja.


EÇA DE QUEIROZ

in
Singularidades de Uma Rapariga Loura

citação para roteiro queirosiano em

A LISBOA DE EÇA DE QUEIROZ


de MARINA TAVARES DIAS

quarta-feira, 12 de março de 2014

O Ano dos Estudantes



1962

[...] O Governo proíbe o Dia do Estudante, marcado para 24 e 25 de Março, e manda a Polícia invadir o espaço universitário. Os estudantes das Universidades de Lisboa e Coimbra respondem massivamente com o «luto académico» (eufemismo de greve às aulas e aos exames). A crise irá durar até Junho. Logo no início, demite-se o reitor da Universidade Clássica de Lisboa, Marcello Caetano. Sem seu conhecimento, a Polícia invadira a Universidade, atitude considerada impensável e atentatória do próprio estatuto da instituição. [...] Nesse dia 24 de Março de 1962, e na sequência de tal acto, emerge uma geração de oposicionistas ao regime. Entre eles está um jovem estudante de nome Jorge Sampaio. 

Que em 1996 será eleito Presidente da República. [...]

MARINA TAVARES DIAS
excerto do livro no prelo 
LISBOA NOS ANOS 60

terça-feira, 11 de março de 2014

Martim Moniz no Socorro

MARINA TAVARES DIAS
(texto e fotografias)
in
LISBOA MISTERIOSA




O gomo mais suculento desta laranja de vento é decerto o facto de que a inexistência de Dom Martim, personagem perpetuada pela tradição oral, literária e toponímica, também não pode ser exactamente provada. 

Teremos sempre, na primeira história da Lisboa cristã, o mito agarrado ao leme do tempo. Para mal dos pecados da imaginação, querem os deuses que tal leme não saiba tornar atrás. Só uma descoberta nova, agora altamente improvável, de manuscritos antigos referentes à tomada de Lisboa poderia repor Martim Moniz no caminho da historiografia mais séria. 

Assim sendo, Dom Martim continuará entalado entre a cidade real e a cidade imaginada. Lugar perfeito para qualquer herói, de Orfeu a Páris, de Ulisses ao Encoberto, das passadas estampas ao futuro continuado dos filmes históricos. 

Um herói à medida de qualquer lugar ou ocasião. Existindo, sim, mas sem identidade definitiva. Existindo, sim, mas devagar…

segunda-feira, 10 de março de 2014

O NAMORO DE GARGAREJO






Fotogramas do filme 
Lisboa Crónica Anedótica
de Leitão de Barros, 1930



Nos prédios de rendimento populariza-se então o namoro “de estaca” ou “de gargarejo”. Olhar cravado numa janela de terceiro andar, o pretendente coca durante horas a sua fonte de inspiração. Depara-se-lhe frequentemente, em vez dela, algum parente irado que se põe gritar despautérios, perante o gáudio de toda a vizinhança.

A mor parte das vezes lá assoma a menina, discretamente atrás da cortina, e assim ficam tempos esquecidos, trocando muitos gestos e alguns gritinhos. Há quem se faça valer duma espécie de telefone de cartão e fio encerado, descendo-o até à rua, para melhor captar as adoradas frases do marmanjo. Ou prendem-se cartas de amor à ponta de um cordel que a menina pendura lá do alto.

E tudo isto sob a chacota de quem passa: guarda municipal, cocheiros de tipóia, galegos aguadeiros, padres de sotaina ou meretrizes cobertas de carmim. Cada namoro de janela é assunto dum bairro inteiro, fazendo as delícias da vizinhança alcoviteira.


MARINA TAVARES DIAS

in Lisboa Desaparecida, volume IV

domingo, 9 de março de 2014

CINEMA: AS COMÉDIAS À PORTUGUESA

Capa de partitura musical editada pela casa Sassetti,
com canções do filme A Canção de Lisboa, de Cottinelli Telmo


[...] 'Basicamente, as «fitas faladas» assumem, desde o início, uma vertente semi-subversiva, totalmente diversa daquilo que, até então, dominara os argumentos para animatógrafo. 

Ao longo das décadas seguintes, grandes sucessos da «comédia à portuguesa» vão reproduzir à exaustão o universo pequeno-burguês da Lisboa bairrista. Pleno de personagens argutas, bailadeiras, cinéfilas, modernaças, amantes da pinga, ambiciosas, mentirosas, pouco dadas ao trabalho e frequentemente amorais. 

No epílogo, quase sempre, saem triunfantes sobre os chamados «botas de elástico», através de uma inversão de valores que nem sequer propõe julgamentos. 

As comédias do cinema sonoro penderão, pois, para o avesso do regime que as acolheu como arte, e que nunca consegue encaminhá-las para o moralismo do «poucochinho mas honrado». 

Analistas e historiadores futuros falharão quase sempre ao tentarem ligar este universo, basicamente «revisteiro», herdado de Oitocentos e sedimentado na Primeira República, à opção deliberada pela propaganda do Estado Novo. [.../...]'

Excerto de um texto
de
MARINA TAVARES DIAS
para a revista 
VISÃO 
(2013)

sábado, 8 de março de 2014

Rua da Prata. Quem a viu; quem a vê

Em: «Lisboa nos Passos de Pessoa»,
de 
Marina Tavares Dias

Fernando Pessoa, cujo domínio absoluto da língua inglesa, raríssimo na Lisboa da primeira metade do século, é cartão de visita em qualquer empresa da capital, transforma-se numa ajuda preciosa para a gerência de muitos escritórios. Adianta correspondência, estabelece contactos internacionais, ajuda no expediente geral. Recusa sempre um emprego fixo. A sua prioridade absoluta é, desde muito cedo, a obra literária. Aqui e ali, entre duas traduções, vai aproveitando a máquina para escrever outras coisas: o “Livro do Desassossego”, por exemplo, é parcialmente concebido na Baixa, sobretudo no primeiro andar da Ourivesaria Moitinho, em cujo escritório trabalha ao longo de mais de uma década.
MARINA TAVARES DIAS


sexta-feira, 7 de março de 2014

LISBOA NOS ANOS 40 | Longe da Guerra, de MARINA TAVARES DIAS. Take II

Longe da Guerra 


1943. Legionários guardam abrigos nas arcadas do Terreiro do Paço. 
A calmaria da paz reveste-se, ficticiamente, do aspecto da guerra. 
Os exercícios de defesa, cujo objectivo seria preparar Lisboa para o conflito mundial, 
serviam de distracção aos transeuntes da Baixa.
(fotografia do livro LISBOA NOS ANOS 40 - LONGE DA GUERRA
de MARINA TAVARES DIAS, 1998)

quarta-feira, 5 de março de 2014

SANT'ANNA







Oragos das colinas de Lisboa
SANTA ANA
(SANT'ANNA)
Obra de Machado de Castro,
madeira estofada e policromada;
pormenor de peça do
acervo do
Museu Nacional de Arte Antiga.
Não foi divulgada origem e/ou data de aquisição.
Fotografia de
Marina Tavares Dias (pormenor)

terça-feira, 4 de março de 2014



Damião de Góis

faz a sua
Descrição da Cidade de Lisboa


[...] Quem terá sido o primeiro fundador de Lisboa, eis o que não me atrevo a afirmar com certeza, a tantos séculos de distância.

Os escritores mais antigos incluem-na, porém, entre as mais antigas cidades de Hispânia. Varrão chama-lhe Olisiponem; Pto­lomeu, Oliosiponem; Estrabão dá-lhe o nome de Ulisseam, e parece atestar, baseado nas palavras de Asclepíàdes Mirliano, que foi fundada por Ulisses.

Este tal Mirliano presidiu na Turdetânea a um certame literá­rio e escreveu um livro acerca dos povos da região. Diz até que em Lisboa se encontravam então pendurados no templo de Minerva determinados objectos, tais como escudos, festões e esporões de navios, alusivos às viagens de Ulisses.
[...]

DAMIÃO DE GOES

domingo, 2 de março de 2014

CARNAVAL ALFACINHA... quem te viu, quem te vê!





O Carnaval era a mais animada das festas de Lisboa.
[...]Na Avenida da Liberdade havia sempre parada, com carros enfeitados de flores de onde os foliões atiravam confeitos à multidão apinhada nos passeios. Entre as galeras engrinaldadas e as carroças repletas de mascarados, havia grupos de acrobatas executando prodígios como a "pirâmide" e a “dança da roda”. As máscaras mais famosas eram a de “Xéxé” (paródia aos velhos costumes “ancien-régime”) e a de velha-do-capote. Quase todas as famílias populares se organizavam, com os vizinhos, em “cegadas”, espécie de representação popular que metia sempre uma cena de pancadaria e um conhecido mascarado de polícia. Considerado uma festa violenta, devido aos desacatos muitas vezes cometidos pelos foliões em delírio, o Entrudo era acontecimento de primeira página para os jornais. [...]

por
MARINA TAVARES DIAS

sábado, 1 de março de 2014

Na cidade em que Júlio Castilho teve de vender a biblioteca para sobreviver

"[.../...] Neste momento, a casa onde morreu Júlio de Castilho, o pioneiro da olisipografia, está a cair, esquecida e emparedada, com placa de homenagem e um letreiro a dizer «Património Municipal». Este é, senhoras e senhores, o destino do olisipógrafo depois de morto. Enquanto vivo, a sua missão é a História em forma de ferroada. É pouco. Mas se pouco é, para mais não chega cada curta vida. Especialmente num país onde as cidades nunca tiveram os historiadores que merecem, tendo de contentar-se com aqueles que as amam sem sentido da mesura. Aqueles cuja vocação mostra, no mundo do lucro fácil, todos os indícios daquilo que saiu de moda há muitos e muitos anos: raízes, memória, estudo, contemplação, paredes barrocamente repletas de papéis e, sobretudo, andar pelas ruas sem automóvel.  Castilho, por exemplo, teve de vender a sua biblioteca pessoal para poder alimentar a casa. Disso mesmo se queixa em carta a Thomaz de Mello Breyner. Carta essa que comprei há décadas, e que mandei emoldurar. Para que a vida de olisipógrafa nunca me surpreendesse até ao desespero."

MARINA TAVARES DIAS